OS MILAGRES DO ÊXODO
O Deus que intervém. O livro de Êxodo descreve a intervenção pessoal de Deus na história. Com atos de grande poder, Deus forçou o Egito a libertar os escravos israelitas, o povo da aliança. Esses relatos formam uma importante contribuição para desenvolvermos um conceito bíblico de Deus. Ele é aquele que faz promessas ao homem e age de maneira espetacular para cumprir essas promessas. Além disso, Deus vê a situação do homem e se importa com ela. Boa parte dos nossos conceitos teológicos (ex.: aliança, milagre, redenção, propiciação, etc.) são desenvolvidos a partir da revelação deste livro. A história da intervenção divina na situação de Israel começa com a seguinte afirmação:
“Deus olhou para os israelitas e viu a situação deles” (Êx 2.25).
Êxodo: o livro dos confrontos
O livro de Êxodo está repleto de confrontos fantásticos, promovidos por Deus, para demonstrar Seu poder sobre todas as coisas: a história, a natureza, os indivíduos e as nações. Alguns desses confrontos são:
· Moisés × faraó (Êx 5.2);
· Israel × Egito (Êx 11.7);
· O Senhor × os deuses do Egito (Êx 7.5; 12.12).
O escritor Bernard Ramm acredita que o livro de Êxodo é principalmente a história do confronto entre o Deus dos escravos e “todos os deuses, poderes, autoridades, principados e ideologias, visíveis ou invisíveis, que se opõem a Deus e que escravizam ou oprimem o ser humano”. Na opinião do professor Lawrence Richards, esta é a principal lição de Êxodo:“Não importa o que esteja escravizando você, Deus pode vencer esse opressor, tal como derrotou os deuses ocos do Egito”.
As dez pragas do Egito
As dez pragas enviadas por Deus contra o Egito visavam ridicularizar os deuses do Egito, e o propósito era dar provas do poder do Deus de Israel sobre esses deuses. Repetidas vezes se declara que, por meio desses milagres, tanto Israel quanto os egípcios viriam a “saber que o Senhor é Deus” (6.7; 7.5,17; 8.22; 10.2; 14.4,18). Posteriormente, no deserto, o maná e as codornizes tiveram o propósito de demonstrar o mesmo fato (16.6,12).
Nas cinco primeiras pragas, o faraó endureceu o coração por conta própria. Nas cinco últimas, foi Deus quem endureceu o coração dele. Sem essas pragas, Israel nunca teria sido libertado e não teria havido nenhuma nação hebréia. (Veja no quadro abaixo, a relação entre as dez pragas e os deuses do Egito).
Pragas | Deu(es) |
O Nilo é transformado em sangue - 7.14-25 | Knum: guardião do Nilo Hapi: espírito do Nilo Osíris: doador da vida, cuja corrente sanguínea era do Nilo |
As rãs - 8.1-15 | Hect: deus da ressurreição, que também ajudava parturientes e tinha a forma de rã |
Os piolhos - 8.16-19 | |
As moscas - 8.20-32 | |
A morte dos rebanhos - 9.1-7 | Hátor: a deusa-mãe, que tinha a forma de vaca Ápis: o deus-touro, personificação viva de Pta (o deus-criador) e símbolo da fertilidade |
As feridas purulentas - 9.8-12 | Imopete: deus da medicina |
A chuva de granizo - 9.13-35 | Nute: a deusa do céu Ísis: a deusa da vida Sete: o protetor das plantações |
Os gafanhotos - 10.1-20 | Ísis: a deusa da vida Sete: protetor das plantações |
As densas trevas - 10.12-29 | Rá, Áten, Atum e Hórus: todos eles eram algum tipo de deus-sol |
A morte dos primogênitos - 11.1-12.36 | Faraó: que era considerado um deus Osíris: doador da vida |
O coração obstinado do faraó
Essa é uma das questões prediletas para especulação. Alguns versículos registram que Deus fez o coração do faraó resistir. Em outras ocasiões, o próprio faraó foi o obstinado. O que essas passagens querem realmente dizer? Será que Deus levou o faraó a pecar contra a vontade deste? Teria sido Deus a origem do mal do faraó?
Em Êx 3.19, Deus revela a Moisés que ele sabia que o faraó não deixaria o povo sair, a não ser que fosse obrigado. A primeira reação de faraó foi espontânea e demonstrou sua insensibilidade à voz de Deus (Êx 5.2). Mas em Êx 7.3,4, Deus diz que fará “o coração do faraó resistir”. O que significa isso? Algumas explicações possíveis são:
· A teoria hebraica da causação: que segue em ordem reversa a responsabilidade até chegar ao primeiro responsável, que seria Deus;
· A teoria do resultado natural da revelação: quando Deus fala a corações sensíveis, estes se derretem; mas quando Ele fala a corações insensíveis, eles resistem;
· A teoria do fortalecimento: a palavra hebraica usada mais freqüentemente nesse trecho, significa literalmente “tornar forte”. Daí a derivação “fortalecer” ou “endurecer”. Poderíamos parafrasear assim: “Deus fortaleceu a decisão de resistir tomada pelo faraó”.
A PáscoaO golpe final contra o Egito foi a morte dos primogênitos. Seguindo instruções de Deus, Moisés conduziu o povo de Israel aos preparativos apressados. Receberam a ordem de pedir ouro e jóias dos egípcios. O Senhor iria mover o coração dos patrões para que lhes dessem esses objetos preciosos. Os israelitas deveriam estar preparados para uma partida súbita. O pão não deveria ser misturado com fermento – pois não haveria tempo para a massa crescer. Além disso, deveriam tomar um cordeiro sem defeito para cada família. Este deveria ser mantido em casa quatro dias e morto no décimo quarto dia do mês. O sangue deveria ser pincelado nos umbrais das portas das casas. A família tinha de comer o cordeiro apressadamente, vestida para partir em viagem.
Essa cerimônia seria chamada “Páscoa” (lit.: “passagem sobre”), porque na noite em que o cordeiro fosse morto, Deus enviaria o anjo da morte, que passaria pela terra do Egito. O primogênito de cada família iria morrer, começando pela casa do faraó e continuando até a casa do camponês mais simples. Mas o anjo da morte passaria por cima das casas protegidas pelo sangue do cordeiro, sem entrar nelas para ferir o primogênito.
O significado completo desse evento só seria compreendido depois da vinda de Jesus e do seu sacrifício na cruz do Calvário, onde foi morto como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Contudo, os crentes do AT poderiam aprender lições vitais com a experiência do cordeiro pascal. Vejamos algumas delas:
· O relacionamento com Deus é questão de vida ou morte;
· A redenção traz liberdade à custa do sangue;
· Só é possível livrar-se da pena de morte, por meio do sacrifício (Lv 17.11; Hb 9.22);
· É preciso lembrar-se regularmente da redenção (Êx 12.17,27);
Bibliografia: Comentário Bíblico do Professor, Lawrence Richards, Editora Vida; O Antigo Testamento em Tabelas e Gráficos, John H. Walton, Editora Vida; Quem é quem na Bíblia Sagrada, Paul Gardner, Editora Vida; Manual Bíblico Vida Nova, Edições Vida Nova; Manual Bíblico de Halley, Henry Hampton Halley, Editora Vida; Bíblia de Estudo NVI, Editora Vida.Questões para reflexão:
1. Em sua opinião, por quais razões Israel tinha de presenciar demonstrações tão dramáticas do poder de Deus nesse momento da sua história?
2. Que relação nós podemos ver entre a Páscoa e Jesus?
3. Em que áreas da sua vida você sente que ainda precisa de libertação?
4. A exemplo da Páscoa, que experiências espirituais você gostaria de comemorar regularmente, para lembrar das verdades aprendidas por você através delas?
5. O sofrimento infligido por Deus, por meio das dez pragas, serviu para amolecer o coração dos israelitas e endurecer o coração do faraó. Em sua opinião, como um cristão deve reagir ao sofrimento de modo que a sua fé aumente, ao invés de diminuir?
Nenhum comentário:
Postar um comentário